“Em 2015, fui vítima de uma perseguição cruel no meu ambiente de trabalho. Foi um processo doloroso. Adoeci e permaneci afastada por cerca de 3 meses, cuidando da minha saúde. Quando retornei, já eleita pelos funcionários do BB como sua representante no Conselho de Administração, com mais de 27 mil votos, fui comunicada de que estava suspensa por 20 dias, sem vencimentos.
A perseguição foi consequência de minha atuação como representante sindical, na defesa dos direitos dos trabalhadores. Eu sempre soube que fui vítima de assédio e prática anti sindical. Muitos também sempre souberam e estiveram ao meu lado. Mas, agora, a Justiça do Trabalho também reconheceu, declarando nula a suspensão aplicada pelo Banco do Brasil, determinando que a penalidade seja suprimida de todos os meus registros funcionais e ainda impondo ao Banco uma compensação por dano moral.
Ontem, lendo a sentença do juiz, lembrei de tudo por que passei e pensei que a luta sempre vale a pena. Mesmo quando a justiça não está ao nosso lado. Mas é muito bom quando a justiça é feita. Mesmo que parcialmente. A indenização não fará nem cócegas no Banco. O gestor que me perseguiu cruelmente foi, logo depois, promovido a executivo e, recentemente, aposentou-se, colocando no bolso um “incentivo” milionário.
Mas é muito importante, principalmente nos tempos em que vivemos, poder ler na sentença de um juiz que “somente pelo engajamento coletivo os trabalhadores podem alcançar o poder de equilibrar os debates com os empregadores com a finalidade de melhorar salários e condições de trabalho e de vida.”
Ainda de acordo com o juiz, “garantir condições de exercício da representação sindical é um desafio de vários Estados soberanos e, no Brasil, esse desafio vem sendo um obstáculo quase intransponível na busca pela efetividade dos direitos fundamentais dos trabalhadores no país.”
É para isso que lutamos. Para transpor os obstáculos, mesmo que pareçam “quase intransponíveis” e mesmo que às vezes isso custe nossa própria saúde mental. Eu sei que essa sentença não acabará com o assédio moral e nem com as práticas anti sindicais. Mas ela pode encorajar aqueles que, como eu, foram vítimas dele, não somente a buscar justiça, mas, ainda mais importante, a buscar saída na coletividade. Lutar sempre vale a pena.”
Juliana Donato, bancária do Banco do Brasil, militante do PSOL e ex-membra do Conselho de Administração do banco