No final do ano passado, diversos bancários do Itaú relataram ao movimento sindical paulista problemas com os sistemas de financiamento de veículos e de cobrança de metas. Os representantes dos trabalhadores procuraram o banco para tentar solucionar essas e outras situações.
De acordo com denúncias, o sistema Credline (dedicado para contratação do financiamento de veículos), com anuência do banco, permite que pessoas de todo o Brasil cadastrem produções sem realizar a transação, prejudicando gerentes. Os funcionários afirmam que esse sistema não é o único que se caracteriza pelo “roubo de produção”. No sistema VAI, outra ferramenta de aferição de produção, a contabilização fica para o último bancário que fizer um registro de interação, não para quem realizou a venda. Ao relatarem o conflito, os funcionários são orientados a “resolverem entre si”.
Questionado sobre a situação, o Itaú afirmou que já está apurando o caso e destacou seu compromisso com a ética.
“Grana Extra”
A campanha de incentivo “Grana Extra”, que promete valores adicionais à comissão daqueles que atingirem metas ainda maiores que o padrão também foi discutida entre o movimento sindical e o Itaú. Isso porque um cálculo errado na planilha de acompanhamento prejudicou vários bancários.
O banco, por sua vez, negou a existência de uma planilha oficial, sugerindo que poderia ser um documento não autorizado. No entanto, os bancários afirmaram com convicção que o Itaú disponibilizou a planilha no sistema da instituição.
Sistema de alavancas
Os trabalhadores também relataram que o sistema de alavancas, métrica de priorização sobre quais produtos valem mais a pena ser comercializados, se transformou em uma espécie de “pirâmide” para os gerentes gerais. Por conta do seu formato, os gestores não se preocupam com as entregas individuais ou coletivas da equipe, mas sim com seu próprio resultado, interferindo diretamente na cobrança abusiva das metas e adoecimento dos trabalhadores. Exemplos disso, são a NPS (pesquisa de satisfação) e Engajamento (registro de contato com clientes), que não estão nas metas individuais dos gerentes 1 e Premium no segmento Uniclass, mas são cobrados como se estivessem, gerando penalizações caso não sejam cumpridas.
Sobre o tema, o Itaú se limitou a dizer que as alavancas são itens de produção e negou mudanças recentes no formato.
Erro no cálculo de contratações de empréstimo
Em julho, o banco errou o cálculo das contratações de empréstimos. Questionado sobre a falha, o banco afirmou que não descontará os valores do resultado mensal, mas sim no resultado semestral. O movimento sindical criticou a medida, afirmando que os trabalhadores foram penalizados pelo erro do próprio banco, pois foram comunicados sobre o desconto no último dia útil de trabalho de 2023, impossibilitando a reversão dos resultados que foram diminuídos.
Sem transparência
A frequência com que os resultados das premiações Dobra Aí (impulsionamento de comissões) e Viagem (viagens internacionais com despesas pagas pelo banco) são divulgados também foi uma questão levantada pelo movimento sindical. Segundo denúncias, o prazo de contestação dos resultados apresentados é bem menor do que a atualização dos resultados parciais do acompanhamento das premiações. Desta forma, os bancários que não registram por conta própria suas produções não conseguem contestar os resultados.
O banco discordou do ponto, alegando que os relatórios de produção estão disponíveis em D+2 nos sistemas GPS (acompanhamento) e Inovas (informações), além de relatórios mensais. No entanto, os bancários afirmaram que a última atualização ocorreu em novembro de 2023, e a próxima está estimada para fevereiro de 2024, quando o resultado final será divulgado.
Falta de treinamento
Por fim, os representantes dos trabalhadores apontaram ao banco a falta de treinamento para gerentes de relacionamento e agentes de negócio. A ausência de incentivo para leitura de regras por parte dos gerentes gerais também foi citada. Geralmente, os trabalhadores só ficam cientes de quais são os procedimentos corretos da instituição, após receberem advertências.
O Itaú se comprometeu a sugerir aos gestores que realizem conversas periódicas sobre as regras estabelecidas. O regulamento pode ser conferido em cartilhas e manuais da instituição.
Para o Sindicato dos Bancários de Bauru e Região, o Itaú é um dos bancos que mais apresenta problemas na forma de cobrar metas dos funcionários. No ano passado, a entidade denunciou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) a conduta abusiva do banco, ao cobrar metas excessivas dos funcionários. A prática, que claramente se configura como assédio moral, extrapola os limites do razoável e tem levado os empregados ao esgotamento e adoecimento físico e psicológico.
Não à toa o Itaú foi eleito pela entidade como o pior banco de 2023 (veja aqui).